Um amigo, de um amigo meu #FINAL

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Bem gente, desculpem pelo atraso, mas tá ai o último capítulo do "Um amigo, de um amigo meu".
Não sei bem quando sai a próxima série, se vai ser série... 
Tenho um projeto, pode ser que eu poste ele aqui enquanto penso em algo legal pra vocês. 
Se não sair semana que vem, o mais tardar na próxima. 
Não viu os outros capítulos? Confira aqui no site, clicando aqui, ou no meu blog, clicando aqui
Obrigada a todos e boa leitura! 

Primeiramente, boa noite. Gostaria de agradecer muito a presença de todos vocês e dizer que é um enorme prazer recebê-los aqui hoje. Espero que apreciem o jantar e que não se importem de ouvir uma história enquanto degustam a comida. Espero que tudo esteja ao gosto de vocês e se precisarem de algo, é só pedir.
Gostaria de lhes contar sobre um amigo. Um amigo, de um amigo meu na verdade. Podem rir, minhas histórias sempre começam assim não é verdade? Mas este cara em particular, é especial.
Esse amigo, do meu amigo, ele era um cara bem ignorado. Digamos que ele não tinha nenhum diferencial. Quando estudava, ele era o nerd, mas haviam pessoas mais nerds que ele, quando era o bagunceiro, haviam pessoas que bagunçavam mais. Sempre havia alguém que fazia algo melhor. No fundo ele não se importava, não gostava mesmo de chamar atenção.
Quando começou a namorar começou a colecionar problemas. Era difícil achar alguém que o realmente fizesse feliz e então, ele ia sendo capacho das garotas até achar algo que fizesse bem a ele.
O meu amigo, que era amigo dele, o ajudava, era o único amigo. Saiam a noite, conheciam muitas pessoas e terminavam bêbados. Chegaram a se apaixonar por uma mesma menina, e mesmo sem assumirem de forma direta, em nome da amizade, davam força pro outro ficar com ela. No fim das contas, os dois descobriram que ela não curtia meninos e eles ficaram aliviados por não terem levado um fora e nem perdido a amizade por uma menina.
Cresceram, estudaram, e então se formaram. Meu amigo, se tornou um engenheiro. O amigo dele, um médico psiquiatra. Apesar de suas profissões não terem muito a ver, sempre que podiam se encontravam para falar sobre o trabalho e relembrar os tempos de escola.



Meu amigo se mudou para o centro da cidade, e o amigo dele conseguiu um estágio num manicômio. Ficaram um bom tempo morando em lugares diferentes, até que ontem se reencontraram.
Nesse meio tempo, meu amigo se casou. O amigo dele estava solteiro mas tinha muitas histórias pra contar.
Primeiro, foi que sua namorada era linda, uma médica que também fazia estágio no manicômio, mas saiu de lá com medo depois que um paciente jogou mingau na sua roupa. Motivo besta pra alguém abandonar o trabalho não é? Seria se a intenção real não fosse acertar a roupa e sim o rosto, e o mingau não tivesse acabado de sair da panela, numa temperatura muito alta a ponto de queimar qualquer coisa. Ela pediu pra ele deixar a clínica para eles poderem montar uma clínica própria, mas ele não aceitou.
Continuaram o namoro até que um dia, depois de um jantar romântico ela sumiu. Ele poderia ter ficado preocupado, mas na verdade não ligou muito já que brigavam constantemente e como ela tinha o gênio forte poderia apenas ter ido embora para não aguentar as besteiras dele, e com todo o seu orgulho, não voltaria nem para dar uma explicação.
O que foi? Seu bife não está bem passado? Falta vinho? Perdão, não consigo entender daqui. Ah sim, pode deixar que vou mandar providenciar. Tudo o que for de bom e melhor para os meus convidados.
Onde eu parei? Ah sim, ele teve outras namoradas mas todas achavam bizarro o estranho amor que ele começou a nutrir pelo seu trabalho, e como ele se dedicava muito, não se importava de permanecer solteiro, afinal, todas sumiam misteriosamente.
Meu amigo lhe apresentou a esposa, que era chefe de cozinha, e trabalhava num dos restaurantes mais conhecidos da cidade. O convidaram para jantar em sua casa mas no dia ele não foi, disse que não podia, que ia estar ocupado com qualquer coisa.
Passaram-se alguns meses e então, meu amigo bateu na porta do amigo dele desesperado. Sua esposa havia desaparecido e ele já havia feito de tudo. O amigo dele, muito tranquilo, dizia palavras confortadoras e o convidou para conhecer seu novo projeto no manicômio. Ele, meio relutante aceitou, mas seria melhor se não tivesse aceitado.
Calma, calma meus amigos queridos. Eu sei que todos estão ansiosos pelo final, mas antes, não podemos esquecer da sobremesa. Aqui está, espero que gostem de cajuzinho. Eu sei, é docinho de festa, mas é tão bom. E claro, depois do vinho que tal adoçar a boca com um pouco de suco de morango? É natural, e está muito bom. Por que estão olhando, podem comer, não fui eu que fiz, sabem que sou um desastre na cozinha. Contratei um serviço de Buffet,  o melhor da região.
Gostam da música? Eu adoro música clássica, me faz me sentir tão bem. Ouçam só a Rapsódia Húngara nº2, de Liszt, não é linda? Extremamente perfeita! Me faz pensar em vocês aqui jantando comigo esta noite e como é bom termos amigos tão presentes em nossas vidas.
Mas vamos lá, pela cara de vocês, a curiosidade já está os corroendo por dentro não é verdade?

Eis o que aconteceu:

O amigo do meu amigo, também adorava colecionar coisas assim como nosso amigo aqui presente dos espelhos e a nossa amiga professora das fotos, e o nosso amigo padre dos corpos. Ele começou um projeto no manicômio, local onde começou a passar todos os dias, tratando e cuidando da sua coleção.
Sua obra, seu maior projeto e seu mimo, se tratavam de potes de comida em conserva. Sabe aqueles potes grandes, alguns até antigos? Dezenas deles, alguns até com os rótulos ainda, e dentro, devidamente conservados, cabeças. Namoradas, amigos, seus pais, todos que pudessem ser queridos por ele estavam ali. Esse meu amigo, que era amigo dele, também está agora com sua cabeça muito bem conversava ao lado da cabeça de sua esposa, e sua expressão de pavor continua a mesma.
Como não saia mais do manicômio, a não ser para passeios rápidos, seus últimos amigos eram mais pacientes, desde os mais loucos até os que estavam ali só para descansar, afinal, eu não me daria bem com a insanidade do mundo mesmo. Espere. Eu disse eu?
Sim, o amigo do meu amigo desta vez sou eu. E vocês, meu queridos amigos, já deve ter percebido que todos esses aparelhos cirúrgicos não eram para cortar o frango assado.
Tão lindo vocês todos amarrados e amordaçados, com essas carinhas olhando pra mim. Dez é um número que eu gosto, talvez seja até meu número da sorte. E vocês são a minha sorte.
Meu amigo que é amigo do cara rico que dá presentes. O cara rico que vende órgãos para dar presente aos amigos. Meu amigo que era cunhado do cara namorou a professora doida. A professora que castrou o cunhado do meu amigo. Meu amigo que namorou a ruiva tingida, que tinha sido namorada do melhor amigo dele. O cara que colecionava espelhos e matou a ruiva tingida porque ela não prestava atenção nele. Meu amigo que tem um gosto peculiar para mulheres, e sua digníssima esposa, ou devo chamar de marido? Claro, minha bela amiga ruiva que tinha uma irmã gêmea, e o reverendíssimo Padre que matou a irmã achando que ela era única.
Dez pessoas. Dez cabeças. Dez potes de vidro de comida em conserva que sobrou desse serviço de Buffet. Tem coisa mais perfeita? Tem. Sempre tem, neste caso, é uma boa música, que tal ouvirmos Carmen, de Bizet enquanto deixo o sangue escorrer. Vou começar pelas moças primeiro, e cada um vai ver os procedimentos, mas estou em dúvida se a Rayanne entra na categoria de moças ou de cavalheiros. Em todo caso, corto a dela na transição de um pro outro. Tentem gritar a vontade, se soltar, faz bem, ajuda o sangue a circular, assim ninguém fica com nenhuma parte do corpo dormente.
Não, não, não se mexa agora professora, é só um corte, você vai ver, nem vai doer, talvez arder um pouquinho, mas logo você será apenas uma cabeça, uma bela cabeça conservada, com sua pele fria, gelada dependendo da temperatura ambiente, com um cheiro doce e forte que entra pelas narinas fazendo alguns sentirem ânsia. Não há ninguém para ouvir os murmúrios de vocês, esta noite é só nossa. Só entre amigos. Meus queridos e amados amigos. Meus queridos pacientes.




Referências: 
Para ouvir a Rapsódia Húngara nº2, de Liszt, clique aqui
Para ouvir Carmen, de Bizet, clique aqui


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4 comentários:

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