Um amigo, de um amigo meu #5

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Pois é gente, a série Um amigo, de um amigo meu está chegando ao fim, semana que vem, temos o último capítulo. Eu não sei quantos de vocês acompanham, mas espero que tenham gostado, assim como eu gostei de escrever. Se você perdeu algum capítulo, você pode conferir todos clicando aqui ou no meu blog
Em breve mais séries pra vocês, comentem e não percam o último capítulo da semana que vem. 


Nem parece que hoje é feriado. Bem, há uma coisa engraçada sobre feriados, a maioria espera ansiosamente, mas no fim das contas, não vão fazer nada demais neste dia, nada que não fariam em outro dia ou em qualquer final de semana. É uma ilusão necessária eu acho, incentivar mais o trabalho, sei lá.
Mas o que eu quero conversar com vocês hoje não é sobre feriados e sim sobre meus amigos. Gostaria de saber sobre os amigos de vocês também, mas quem sabe em outra oportunidade. Por enquanto, vamos falar dela, no caso, delas. Laura e Maria são gêmeas idênticas e perfeitamente lindas. Ruivas. Sei que ruivas naturais são difíceis de encontrar, duas então, mais ainda, mas eu tive a felicidade de encontrá-las, como minhas amigas.
Por serem idênticas, não gostavam de fazer as mesmas coisas e nem de vestir as mesmas roupas, "coisa de criança" elas diziam, não tinha problema, enquanto Laura atendia gatos e cachorros numa veterinária, Maria ficava trancada num escritório finalizando artes de uma empresa. Pela diferença de gostos, era natural que não tivessem muitos amigos em comum, o que ajudava muito, pois assim elas poderiam sair para lugares de diferentes.
Apenas os amigos mais próximos sabiam que elas eram gêmeas e apenas Maria era religiosa. Não que Laura fosse ateia, acreditava em alguma coisa, mas não ia em igrejas. Já Maria, ia para as missas todo domingo, ajudava em ações comunitárias entre outros eventos na igreja, mas sabia dos "pecados" da mesma e não exercia uma fé cega. Fazia questão de ver todos os erros, passados e os atuais e participava de grupos que lutavam contra esses erros sem punições.



Um dia, Maria precisou se mudar por uns dias para um trabalho da empresa. Na nova cidade, fez questão de conhecer as matrizes, e fez amizade com um padre de lá. Padre Alfredo, um homem sempre sério para a maioria dos fiéis, olhos de mel inebriantes para algumas moças, e um ótimo amigo confidente segundo Maria. Sua seriedade a encantava e mesmo ele sempre a tratando com o máximo de respeito (e frieza) possível, ela percebia que ele também gostava de conversar com ela. Não apenas pela beleza da moça e sua companhia, mas sim porque era a única que tratava-o de igual e não como alguém superior.
Laura teve que ir para a mesma cidade pra uma convenção de veterinários, mas como de costume e por ser algo de fim de semana, não avisou a Maria, pois não tinha a intenção de vê-la.
Não que as duas vivessem brigando, mas quando estavam comprometidas com o trabalho, deixavam coisas que não fossem relacionadas de fora. Aprenderam isso com o pai, que quando viajava a trabalho mal fazia contato com elas, mas quando voltava, fazia questão de passar o maior tempo possível com suas meninas.
Eu particularmente vejo uma grande beleza em arte sacra. Sabe, ignorando um pouco todo o significado que sempre tem por trás e observando só a arte por si, é muito bonita. As formas, a leveza de algumas pinturas, assim como os traços de dor e sofrimento, é realmente algo a ser notado. Laura também achava isso. Padre Alfredo também. Maria não notava tanto.
Uma coisa engraçada sobre meus amigos, é que eles sempre estão viajando, diferente de mim que viajo uma vez na vida e outra na morte. O bom de viajar com uma certa frequência é que você sempre tem assunto, e eles tendo assuntos, compartilham comigo, me fazendo ter assuntos interessantes também.
Laura voltou para casa. Maria não. Os dias se passaram e quando Laura ficou de férias percebeu a falta da irmã. Talvez ainda tivesse trabalhando, achou melhor não atrapalhar, e assim passaram-se mais uns dias. Quando a empresa ligou perguntando dela, Laura achou melhor ir ver o que estava acontecendo.
Ela fez contato com alguns amigos, conversou com amigos dela, ninguém sabia dizer ao certo. Procurou em hospitais da sua região e da região do trabalho, procurou em igrejas e até mesmo conventos. Ás vezes Maria tinha uns ataques de humanidade e dizia que ia cumprir com a missão dela de ajudar os outros sendo uma freira missionária. Não encontrou. Por fim, Laura resolveu ir a cidade que Maria foi morar novamente.
Ao chegar no local, mesmo usando roupas de um estilo diferente de Maria, muitas pessoas a cumprimentavam como se fosse ela. Disfarçou e seguiu ao hotel que ela estava hospedada. Logo o gerente disse que havia contas atrasadas e que se ela não pagasse ia ter que pedir que deixasse o quarto. Laura explicou que não era Maria, que estava ali pois havia uma suspeita do desaparecimento da irmã, mas que agora, com o "depoimento" dele, não havia mais suspeitas.
Foi na delegacia, fez o boletim de ocorrência, falou do que sabia e contou com a palavra do gerente do hotel. Algumas pessoas que iam visitar os presos da delegacia quando a viam já falavam: "Oi Maria, há quanto tempo?". Mais uma vez era preciso explicar sobre o parentesco e mais certeza se tinha de que a moça não era vista há um bom tempo.
Quando Laura me ligou, fiquei surpreso, ela estava assustada e me contava as coisas de uma vez de forma confusa, mas depois com mais calma ela foi me explicando tudo. Ela ainda ficou pela cidade, e descobriu paradeiro da irmã. Com medo, o que é natural nestes casos, saiu imediatamente e hoje vive se mudando pensando no que pode acontecer.

Eis o que aconteceu:

Em mais uma noite de insônia pela irmã, Laura foi dar uma caminhada pela cidade. Achou uma igreja aberta e resolveu entrar para admirar a arte do local e quem sabe conseguir uma notícia da irmã. Estava tudo quieto e ela ficou um bom tempo distraída observando os quadros e as estátuas. Foi quando se deu conta que alguém olhava pra ela. Um homem alto, com uma postura elegante que não conseguia tirar a expressão de pavor ao vê-la.
Padre Alfredo tremia ao observar Laura e dizia gaguejando: "Mas vo... Você não está lá dentro?" Laura percebeu que ele estava a confundindo com Maria e percebeu também que ele sabia onde ela estava. Antes de poder se explicar, ele a agarrou pelo braço e a arrastou para a sacristia. Lá, abriu a porta que ficava escondida para os mais distraídos, como se não fosse mais usada, e a levou para um quartinho oculto.
O grito de horror era natural, tanto de Laura, como do Padre Alfredo ao notar que haviam duas "Marias".
O que ele fazia? Primeiro sufocava as vítimas com um terço. Usava o mesmo para colocar sobre as mãos de suas vítimas. Depois despia o corpo morto e colocava uma mortalha branca, logo em seguida, colocava o corpo sobre um caixão de vidro e o deixava conservado por dias no formol. Não pegava qualquer um para fazer isso, apenas "os seres mais belos" considerados por ele. Qualquer um que tivesse algum traço que chamasse a atenção, mesmo sendo diferente ou até mesmo bizarro, era conservado. O quarto era subterrâneo, e na sala que estavam cinco caixões de vidro incluindo o de Maria, mas haviam outras portas que deviam levar para outros quartos com mais caixões.
Laura horrorizada, ainda conseguiu perguntar o porquê. Ouviu apenas gritos histéricos de alguém perdendo a pose, falando dos seus medos de infância e seus desejos que não podiam ser saciados. Da sua vontade de manter o que é belo e único. Com um terço na mão ele começou a se aproximar de Laura que o empurrou e conseguiu correr e escapar. Antes de sair pela porta da sacristia, ouviu dizer que por mais que ela fugisse, uma hora ele a encontraria e ela seria dele.

O que se pode dizer de tudo isso? Eu sinceramente não sei, talvez confiar menos em pessoas sérias? Ou observar suas manias estranhas? Ou ainda, tentar se conhecer a ponto de entender todos os seus anseios e angústias, desejos e medos antes de ficar completamente maluco?

Essa eu deixo pra vocês, porque agora, estou encomendando algumas coisas para o jantar que irei fazer semana que vem e, que vocês estão convidados. (Sou péssimo pra cozinhar, melhor pagar alguém para fazer isso).  

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