Um amigo, de um amigo meu #4

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As coisas acontecem tão rápido na vida da gente que as vezes não dá tempo nem de respirar. Foi assim nas minhas férias. Visitei um amigo meu do interior, que nem era mais tão interior visto que abriram muitas casas de show na cidade e sempre havia festa por ali, com isso o lugar ficou mais movimentado e de certa forma, até mais alegre. Esse meu amigo vivia virando as noites, dizia que pegava todas as meninas mas a verdade é que não pegava ninguém.
Até pegava, mas pagava. Sim, com o aumento do movimento, houve aumento das prostitutas na região, e como muito playboy ia pra cidade por causa das festas, elas lucravam. Uma semana na casa do meu amigo, conheci quase todas as garotas que ficavam na rua. Ana, Angélica, Beatriz, Paula, Roberta... Só dava tempo de dizer "Oi, Bom dia" enquanto eu tomava café na cozinha e elas saiam apressadas pela manhã.




Meu amigo até me indicou algumas, arriscou me mostrar até as que ele ainda não tinha "provado". Recusei educadamente, não me interesso por esse tipo. Andando com meu amigo pela cidade, conheci uma de suas amigas. O nome de guerra era Rayanne, e vivia andando com outra colega chamada Stephanny, mas isso era durante a noite. De dia, trabalhavam de seguranças numa loja de roupas, juntas eram Marcos e Thales.
Manias, cada um tem a sua. A do meu amigo era sair com Rayanne/Marcos. ele me garantia que nunca tinha ido pra cama com ela e que eram só amigos de conversa. Eu não to aqui pra julgar ninguém, pouco me importa com quem ele sai, mas de alguma forma, pra ele, era necessário esse tipo de justificativa. No mesmo tempo que fiquei na cidade, um mistério começou a rondar o lugar.
Estupros. Todas as moças, inclusive as da noite estavam preocupadas porque um homem mascarado numa moto preta (clichê), andava por ai pegando moçoilas e arrastando-as para o mato, esquina, beco ou qualquer lugar que tivesse chance. Algumas eram mortas e as vivas ficavam tão em choque que mal conseguiam descrever o suspeito.
Meu amigo, que conhecia minhas histórias de outros amigos ficou desconfiado de mim, mas garanti a ele que da minha parte não passa de história de outras pessoas, afinal, eu nunca fiz nada, e mesmo que fizesse, nos horários dos ataques do mascarado, eu estava com ele.
Cidades do interior costumam ter histórias engraçadas, e quando é uma cidade que está se desenvolvendo então, melhor ainda! As vezes, durante o dia, enquanto meu amigo dormia, eu conversava com algum vizinho mais velho, ou algum idoso que eu encontrava na rua. "Os jovens baderneiros" os incomodavam muito, mas eles gostavam de ver "as mocinhas" de saia curta. A história do estuprador também os preocupava mas bem menos do que eu imaginei. Disseram que de tempos em tempos acontecia e o desfecho na maioria das vezes era o mesmo: pegavam o cara e linchavam. Era uma caça do povo achar primeiro que a polícia justamente para poderem dar a ele o "castigo merecido". Os policiais nem se importavam mais e simplesmente deixavam que "a justiça fosse feita".
Naquela noite meu amigo resolveu sair sozinho, disse que voltaria pela manhã com duas meninas e eu resolvi ficar em casa bebendo e comendo o que ainda restava na geladeira. Pela manhã vi uma das meninas saindo apressadas e então perguntei ela outra. "A Ray saiu mais cedo...". A menina que saiu por último não me deu bom dia mas um beijo que me pegou de surpresa. Enfim meu amigo acordou e logo em seguida o telefone tocou.
Deixei meu amigo sozinho e fui caminhar novamente pela cidade. Confesso que fiquei tentado em convidar a menina do beijo pra uma noite mas era meu último dia e eu ainda não via graça nesse tipo de coisa. Havia uma aglomeração na rua e ao me aproximar vi que mais uma vítima havia sido feita, e desta vez próximo de casa.
Meu amigo me chamou e disse que a Stephanny havia ligado desesperada pois a Rayanne havia saído com um cliente ontem e não havia voltado. Ele a chamou para ir a sua casa para ver se conseguíamos falar com ela. Por volta da hora do almoço, Stephanny chegou, vestida de Thales, falando grosso com a pose de segurança, mas foi só falar da amiga que se desmanchou em lágrimas e soluçava feito uma criança.
Alguns minutos depois, o celular do segurança toca e ouço um imenso suspiro de alívio de Stephanny (e do meu amigo também), ao ouvirem: "Ei amiga, onde você tá? To aqui no trabalho de esperando. Eu, sumida? Tá doida? Eu só dormi demais querida, vem logo que eu não do conta dessa mulherada sozinha não!".
Minhas férias acabaram, e depois que eu fui embora soube que acharam mais um corpo depois daquele achado próximo da casa do meu amigo. O estuprador deu um tempo aparentemente e por um momento as moças puderam ter um pouco de paz. Soube também que meu amigo mudou de cidade e estava morando junto com uma moça simpática.
Claro que meu amigo poderia ter mudado de cidade pra viver com essa moça pelo simples motivo dele já ser bem "conhecido" por lá, mas o motivo que o levou a se mudar ou outro totalmente diferente.

Eis o que aconteceu:

Meu amigo acabou descobrindo sem querer quem era o estuprador. Não contou pra ninguém pois ficou com medo. Não só de morrer e se estuprado também, mas medo de machucar o seu amor.
Rayanne/Marcos era o estuprador. Passava a noite fazendo programas mas quando se entediava agarrava algumas garotas e saciava o seu duplo desejo. Quando queria só se divertir, saía como homem, de capuz e roupa larga. As moças que o viam assim ele ainda permitia a vida, mas quando estava montado e não aguentava segurar fogo, esquecia os pudores e estuprava as moças, vestido de mulher. Estas o reconheciam e eram mortas durante o estupro, assim ele continuava saciando o desejo enquanto os corpos iam esfriando aos poucos.
Quando meu amigo descobriu, teve uma conversa com ela, arriscando e contando a verdade, mas sem condená-la e sim, oferecendo um abrigo. Ela ficou sensibilizada pois era a primeira e talvez única pessoa que pudesse entendê-la.
Então, "casaram-se" e hoje moram juntos em outra cidade. Nesta, todos desconfiam que possa haver uma dupla identidade, mas ninguém arrisca dizer, para todos, é Dona Rayanne, apenas.
Como um vício, ela ainda faz suas vítimas por ai, e agora com uma desculpa melhor já que ninguém desconfia, e apesar de sentir ciúmes, meu amigo permite porque como ele mesmo me disse: "não consegue atender certas necessidades dela".

Acredito que não exista uma moral mas, quando se ama, certas coisas podem ser toleradas e pessoas são capazes de fazer quaisquer coisas para saciar seus desejos... O que pode ser feito? Apenas saia do caminho para de repente, não acabar sendo abusado.


No fim das contas eu peguei o número da menina do beijo, além de fazer programas ela tem um dom incrível para trabalhar com vidros, e eu estava precisando mesmo dar uma renovada em minha casa...

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