O estado de Israel está protegido pela cúpula de ferro, seu baluarte tecnológico inexpugnável, enquanto os misseis russos rasgam os céus da fronteira em direção a tentativas frustradas de ataque. Aqui, do outro lado da guerra as pessoas estão desesperadas. O maldito Hamas não tenciona cessar essa droga de guerra e os sionistas continuam com os ataques dia e noite, destruindo escolas, hospitais, casas e recursos básicos de subsistência como instalações de tratamento de agua, usinas elétricas, hospitais, escolas, faculdades, pontes, estradas e áreas de livre comércio. Os mortos já ultrapassam as centenas e os mutilados de guerra são o produto dessa quantia. Pessoas que jamais voltarão a andar ou executar tarefas simples do dia a dia sem o auxilio de aparelhos para deficiência. A força de trabalho foi estraçalhada. Pergunto-me como seremos capazes de reconstruir a palestina? Talvez nunca. Talvez essa guerra seja a derradeira. Por que nossos trateadores não incineram minha terra com as bombas de hidrogênio? Seria um fim muito mais misericordioso, sem duvida.
Perdi meu irmão ontem. Essa maldita guerra já me levou tudo o que eu tinha e agora me leva meu irmão mais velho. Não tive sequer a chance de enterra-lo. Seu corpo foi dividido em cinco pedaços de carne. Seu rosto foi quase completamente desfigurado e eu o encontrei enquanto a metade de cima de seu tronco ainda sofria espasmos e vertia sangue. Um sangue quase negro que pulsava sofregamente saindo por seus intestinos que se espalhavam pela rua. Ele era do Hamas. Entrara no grupo a pouco mais de um ano e estava comandando um lançador de foguetes no pátio da escola onde estudávamos quando houve a investida israelense.
A revolta me come por dentro e alimenta aos poucos um instinto inerente de vingança. O desejo de transmutar os sionistas, como num caldeirão alquímico, de algozes a cadáveres cresce em proporção exponencial à medida que vejo meus iguais serem dizimados por uma guerra motivada por um insípido ódio semítico reciproco. Me pego desejando expulsa-los da região em que se apossaram há meio século e derramar seu sangue na terra santa! Não. Meu irmão seguiu esse mesmo caminho e seu premio por lutar foi morrer despedaçado. Mas qual caminho seguir? Não há empregos, nem perspectivas. Estou preso novamente em minha ínsula particular onde a esperança é só um desejo fugaz.
Foi quando avistei os panfletos caindo do céu. Uma chuva infinita de papeis drapejando no ar. Segundos depois ouvi o som estridulo do caça israelense passando por sobre a minha cabeça. Comecei imediatamente a correr junto com a turba que estava na praça. Os comerciantes pegavam o que podiam e tentavam correr junto comigo ao reconhecer o aviso do bombardeio israelense. Em cerca de dois minutos um avião de guerra sionista derrubaria bombas visando algum alvo estratégico. Os avisos nem sempre são cumpridos e às vezes as bombas caem antes do combin...
O que aparenta ser uma bomba de mil quilos devasta a área diretamente a minha frente atingindo a casamata diametralmente oposta a área onde os panfletos caíam e lançando os fragmentos da explosão como facas no ar. As chamas queimam a um milhão de graus e a onda de choque espalha uma lufada de ar quente que frita minha pele enquanto sou arremessado para trás como um boneco de pano. A dor é excruciante quando sinto minhas costas explodirem no chão estilhaçando minha bacia em quatro partes distintas. Meu braço esquerdo não sofre muito mais que lacerações fundas. A confusão mental que se apossa de mim é atemporal e transcende qualquer sensação a qual já tenha sido exposto em minha curta vida. Meus ouvidos estão prejudicados pelo forte estrondo da detonação e tudo que posso sentir são vozes distantes e desconexas, clamores desesperados de medo, dor e angustia.
Não me recordo de quanto tempo fiquei estatelado no chão duro e irregular da pista. Talvez cinco ou dez minutos. Só me dei conta do que havia acontecido quando os paramédicos recolheram o que havia sobrado de meu corpo e me puseram na maca. O interior da ambulância era um amalgama da dor palestina. Sangue e carne por toda parte, talvez dos outros atendimentos. Vitimas sem rosto de uma guerra sem norte. Enquanto espero o motorista da ambulância se guiar pelo cenário apocalítico onde nenhum GPS é capaz de encontrar as poucas ruas que estão intactas, me pego pensando quando todo este terror vai ter fim.
Foi então que a segunda bomba caiu.
por JORGE GUERRA
Vão pela sombra, Equipe Eutanásia.
Muito Foda!!!
ResponderExcluirNo começo do texto pensei se tratar um texto informativo, como o do "Ébola", mas me surpreendeu ao se tratar de um conto. Uma surpresa boa, muito bem escrito e transmitindo o desespero incomensurável que esses cidadãos estão enfrentando...
ResponderExcluirMuito bem escrito, surpreendente e bla bla bla...
ResponderExcluirgostei dmais u-u