Matar e foder. Minha vida pode ser resumida a essas duas palavras/ações. Na verdade não me imagino me divertindo se não estiver fazendo uma dessas duas coisas. Já aprendi muito nessa vida e descobri que Freud, Frankl e Kant estavam todos errados. O verdadeiro sentido da vida é matar e foder.
Foda o que não quiser matar e mate o que não quiser foder. Porra de filosofia essa.
Por isso estou aqui sentado nesse banquinho capenga desse boteco vagabundo. Saboreando um uísque escocês falsificado que parece mijo de cavalo e pensando com os meus botões o que vou fazer do resto dessa noite. Matar ou foder? Não tem nenhuma mulher aqui que me agrade. Todas são novas demais pra mim. Não. As garotas daqui não me interessam.
Então tenho que escolher o gado que deve ser abatido. Daqui de onde estou posso ver um senhor bebendo sozinho. Ele usa um terno surrado e tem um ar distraído. Como se estivesse tentando se esquecer de alguma coisa. Afogar as mágoas na bebida. Tem cara de velho aposentado. Não conseguiria reagir se eu o pegasse de jeito. Não gosto desse tipo de vitima. No fundo o que mais me atrai é a reação. Quero ver seus olhos perderem o brilho aos poucos. É uma sensação que não se pode esquecer.
Enquanto procuro uma vitima merecedora da morte me sinto um juiz da suprema corte julgando um caso de pena capital. Mas diferentemente da corte americana aqui eu não conheço o passado das vitimas. Nunca mato ninguém que eu conheça, mesmo que minimamente. Prefiro escolher vitimas que nunca vi na vida. Isso torna as coisas impessoais e mais divertidas. Pra mim, claro. Nunca é divertido para elas. O bar esta ficando cada vez mais vazio. Já passa das onze da noite e nesse horário os bares de bairro sempre começam a esvaziar. Preciso escolher alguém rápido antes que só fiquem aqui as piores “carnes”.
Ao meu lado tem um casal de garotas bebendo cerveja. Parecem jovens. Vinte anos no máximo. Não mato menores de idade. Não se trata de pudor. É uma mera questão de habito. Também não gosto de matar as morenas. Tive uma historia complicada com uma vitima morena um tempo atrás. Desde então penso duas vezes antes de desafiar essa raça. Virou uma espécie de superstição particular. Não, as vadias vão viver. Talvez os três amigos na mesa do canto. Parecem descontraídos. Carpe diem. Aproveitando a droga das suas vidas de estudantes da classe média. Pareciam do tipo que merecia morrer. Uma facada na garganta e um corte limpo rasgando a carótida e separando o pescoço em dois hemisférios diferentes, sangrentos, o rosto sem vida, irreconhecível. Sim, sem duvida eles deviam merecer. Mas eu não trouxe minha machete. Estou com meu revolver Taurus enfiado no cinto e só tenho quatro balas. Se algo der errado posso não voltar para casa hoje. E eu sempre quero voltar para casa.
Enquanto olho a placa de “proibido fumar” pregada na parede, acendo um cigarro e dou uma tragada funda. Essa porra não vai me matar. Eu vou morrer muito antes de ter um câncer ou um enfisema. Para pessoas com meu estilo de vida a morte é uma realidade constante. Não é uma mera exceção. É a porra da regra. Às vezes acho qu...
- Senhor, não pode fumar aqui.
Olho para frente e o balconista do bar está me olhando, tentando simular um olhar duro, severo. Filho da puta, penso.
- Desculpe – digo.
Pago a conta (cinquenta e seis reais, Puta que pariu!) e saio daquela droga de bar. Espero na esquina duas horas fumando um cigarro atrás do outro. Meu maço está quase no fim quando o balconista veado empilha a ultima cadeira do bar e se despede do patrão. Eu espero ele se afastar o suficiente para que não me perceba a segui-lo. O filho da puta está fodido na minha mão.
A iluminação da rua está péssima, entretanto a lua está em seu perigeu, grande e vermelha, e irradia uma claridade opaca que domina o ambiente. Verifico discretamente a munição. Está carregada. Aquela Taurus era a arma favorita de minha coleção. Pertencera a meu pai, assassino de aluguel na década de setenta. Aquela pistola já matara muitos subversivos na belle époque dos anos de chumbo. Aquele bicha devia ser comunista. Era isso. Por isso desperta em mim um ódio natural. Por isso eu, mesmo inconscientemente, o escolhera. O filho da puta ia morrer hoje, juro.
Olho em volta enquanto me aproximo, sorrateiro. Estamos sozinhos. Saco o revolver e atiro duas vezes em suas costas. Uma bala em cada pulmão. O bicha dobra os joelhos e olha pra trás me procurando. Eu olho em seus olhos e vejo o sangue brotar em sua boca e escorrer pelo queixo. É uma visão reconfortante. Atiro mais uma vez agora na garganta. O sangue espirra bonito num esguicho escarlate. Aquele cara sabia como morrer. Tinha uma classe que eu vira poucas vezes na vida. Ele leva as mãos ao pescoço e cai de costas no chão. Tenta se arrastar para trás, afastando-se, mas é inútil. Que tédio! Devia ter percebido que não havia mais para onde fugir. Mas ele para de lutar. Não tem mais condições. Os pulmões a essa altura já estão inundados. Ele está se afogando. Resfolegando pateticamente enquanto se arrasta. Olho-o novamente e disparo uma ultima vez, minha ultima bala, direto no coração. O corpo endurece num espasmo e depois sossega. Guardo a arma e acendo outro cigarro. A noite ainda é uma criança.
Por JORGE GUERRA
Vão pela sombra, Equipe Eutanásia.
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