Meu Mundo Perfeito, Despedaçado.

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Dia 0

Passaram-se apenas algumas semanas desde que deixei o continente. Boa solução. Já se passaram anos desde que consegui meu doutorado. Eu estava tentando seguir os passos de meu avô ao me tornar um cientista e tentar tornar o mundo um lugar melhor. No continente, entretanto, presenciei nada mais do que negações de meus colegas e do meu governo.

Usando o conhecimento que adquiri durante os anos de estudo em engenharia e robótica, eu construí minha própria nave em segredo. Levou um certo tempo, mas finalmente consegui terminá-la. E hoje parti do grande continente para uma das grandes e inabitadas ilhas que ficam ao longe de minha nação.

Já estava cansado de corrupção, governos desajustados e aquilo que chamam de ‘progresso’. Afinal de contas, é o mesmo governo que permitiu que minha prima favorita morresse cedo demais, quando ela sucumbiu à uma doença terminal. Este é o mesmo governo que prendeu meu avô, que trabalhava para eles, por tentar descobrir uma cura para a doença que matou esta minha prima. Eu sempre quis usar meus dons para conseguir algo de bom para a humanidade, e já sabia, enquanto crescia, que a cultura do continente jamais me permitiria a fazer algo assim.

Por causa disso que parti para bem longe, para um pedaço de terra desconhecido. Tentarei criar minha própria nação. Espero conseguir criar uma terra onde corrupção e tristeza são inexistentes. Eu sei que isso não é totalmente possível, mas preciso tentar.

Pela manhã, chegarei na nova terra. Preciso descansar agora.

Dia 1

Saí para explorar a ilha. Não há pessoas aqui, mas há uma grande quantidade de vida selvagem. Os animais parecem variações anãs dos que eu encontraria no continente. A maioria deles, até mesmo aqueles que são considerados assustadores e territoriais, como ursos e morsas, se mostraram muito gentis comigo. Eu preciso tomar cuidado para protegê-los e mantê-los em um ambiente seguro enquanto construo meu novo país. Coisas de boa natureza devem ser protegidas, afinal.


Durante minha inspeção pela ilha, descobri ruínas de uma velha e extinta cultura. Aparentemente o local já fora habitado, mas não há sinais de seu povo. Na base da estrutura, encontrei um grupo de relíquias sobre pedestais. Com medo de perturbá-las, eu fiz um rápido teste para determinar suas composições, com esperança de que conseguisse algumas pistas sobre que tipo de cultura havia ali antes. As tais relíquias pareciam emitir uma grande quantidade de energia. Uma máquina conseguiria facilmente usar uma delas como fonte de força.

Temendo estar sendo seguido por meu governo, e que as relíquias pudessem cair em mãos erradas, eu removi as seis peças das ruínas. Mas ao fazer isso, acidentalmente reativei o sistema de segurança arcaico da estrutura: Uma série de armadilhas que dependiam de um fluxo de lava que corria abaixo do solo como fonte de energia e fogo. Os nativos obviamente sabiam do poder destas relíquias e as queriam bem protegidas.

Eu vou desativá-las mais tarde, depois que deixar tudo em ordem. Agora, para construir meu país, preciso manter os animais em segurança, bem como as relíquias. Isto está ficando cada vez mais problemático do que eu imaginava no começo, mas eu sinto que vou ter sucesso. Todo problema tem solução, afinal. Amanhã começarei a construção.


Dia 2

Comecei a construção hoje. De modo a conseguir manter os animais fora de perigo, desenvolvi numerosos sistemas de animação suspensa. O modelo inicial era uma estrutura em forma de cápsula designado a manter vários animais ao mesmo tempo, já que o número ainda era limitado. Afinal, eu não os queria dormindo em um espaço apertado onde podiam se machucar por acidente enquanto estavam inconscientes. Depois de encher os poucos modelos que tinha, eu descobri um leve aumento da população. Não querendo que os animais fossem feridos pelos robôs que criei para que ajudassem na construção, eu comecei a pensar numa forma de conseguir manter aquele crescimento a salvo. Criei cápsulas de animação suspensa portáteis, e as adcionei aos trabalhos internos de meus robôs.

Isso controlaria o crescimento, e manteria os animais em segurança. Eles estarão inconscientes o tempo todo, então quando tudo ficar em ordem, acordarão como se tivessem dormido por apenas uma noite. Um problema a menos.

Quanto às relíquias, eu as coloquei em locais seguros por toda a ilha. Cada uma delas está escondida em estações de realidade virtual simulada, que desenvolvi como uma barreira. A física incomum e a constante mudança de gravidade tornará impossível recuperar as relíquias. Já que eu sou o único que consegue desligar o programa, sou o único que consegue pegá-las. Estarão seguras por ora.

Agora posso continuar a construir minha nação.

Dia 17

Estabeleci minha base de operações no centro da ilha. É praticamente uma carcaça, no momento, mas arrumar o resto da ilha primeiro é mais importante. Os robôs fazem a construção ser muito mais rápida. Já construí uma cidade e uma rodovia. Pelo menos a capital de minha nação está completa.

Encontrei várias ruínas enterradas e um lago subterrâneo enquanto construía. Montei tudo por cima, de modo a não destruir a estrutura completamente. Mandei vários dos meus robôs para investigar as tais ruínas. Espero que voltem com dados valiosos sobre os moradores originais da ilha.

Decidi preservar a costa da ilha. É difícil para mim arruinar tal beleza natural. Eu mandei alguns robôs lá para monitorar a área e ficar de olho em qualquer sinal de visita. Não quero turistas ou oficiais do governo interferindo em meus planos, afinal.

Vivo esquecendo de desligar as armadilhas nas ruínas que encontrei no meu primeiro dia aqui. Os dias parecem passar tão rápido. Cuidarei disso mais tarde.

Dia 18


Os robôs que enviei à costa me alertaram de um certo distúrbio durante as primeiras horas da manhã. As imagens que me foram enviadas mostram o que parece ser um tipo de besta. É diferente de qualquer criatura que já encontrei. Tenho certeza de que os zoologistas do continente declarariam como uma nova espécie. Além da criatura ser intrigante, os registros indicaram que estava atacando, e o pior de tudo, destruindo meus robôs. Os animais dentro das cápsulas morrerão de choque devido ao corte inesperado da animação suspensa. Preciso fazer alguma coisa.

Saí da base em minha nave, armado, mas não buscando briga. Acreditei de forma positiva que talvez este fosse algum animal que não fora notado durante minha varredura na ilha e estava agindo de modo assustado. Esperava conseguir acalmar a criatura com a minha chegada, e colocá-la para dormir como os outros animais. Como estava errado.

Quando cheguei na costa, vi a criatura atacando uma das cápsulas que fiz para aquela área. Eu me aproximei dela e tentei atrair a atenção do ser, numa tentativa de acalmá-la ou qualquer coisa assim. Ao me ver, a criatura se virou e correu em direção ao meu veículo. Saí de seu caminho e ativei as armas que havia instalado, esperando que ela se rendesse. Tal tentativa mostrou-se inútil. Era muito rápida e eu não consegui acertar um tiro sequer, e antes que pudesse notar, a coisa arrancou todas as armas da minha nave. Não tive escolha além de me retirar.

Voei para longe; temendo o caos que aquele monstro podia trazer para minha nova casa. Enquanto partia, me virei para ver a besta destruindo a cápsula. Os animais que eu estava protegendo convulsionaram do lado de fora dos escombros, caindo ao chão. Meu coração afundou com aquela visão. Preciso fazer algo para parar aquele monstro.

Dia 19

Os zangões que lancei ao ar conseguiram localizar a rota da criatura. Estava atravessando as ruínas de acordo com o último registro. Pelo que posso dizer, o monstro está indo para a cidade que acabei de construir. A capital do meu novo país está de pé há três dias e já está sob ameaça. E o pior, parece que a coisa conseguiu encontrar e desligar o sistema de segurança da realidade virtual da costa e pegou a relíquia que estava dentro. Além de ser feroz, parece que a criatura é inteligente também. Inocentemente, eu coloquei uma cápsula nos arredores das ruínas, pensando que estaria segura. Eu sinto que preciso recuperá-la antes que a criatura a destrua e machuque os animais.

Eu equipei minha nave com um lança-chamas, esperando que essa besta destrutiva não sobreviva ao fogo. Mas mais uma vez o ser se provou mais rápido e novamente não consegui atingíl-lo. Ele arrancou o lança-chamas da minha nave, como uma faca corta manteiga. Eu tive que ir embora novamente. Temo que terei que bloquear seu progresso até a cidade. Vamos apenas esperar que meu plano funcione.

Dia 20

O sistema de segurança adicional que eu coloquei na cidade falhou em manter a criatura longe. Quase todos os robôs que posicionei por lá foram destruídos. Minha tentativa de tentar atacar a criatura pessoalmente falhou mais uma vez. Eu fugi esperando encontrar um lugar para me proteger, e mais tarde recebi registros de que a coisa invadiu as ruínas subterrâneas e destruiu todos os robôs que coloquei ali.

Eu tentei canalizar parte do lago subterrâneo para inundar as ruínas e afogar o monstro. Pensei que pudesse subjugar a criatura desse modo, mas a tentativa falhou. Eu suspeitei que a criatura tivesse desenvolvido maior capacidade pulmonar, já que esta escapou das ruínas logo após terem sido completamente inundadas. Parece estar destruindo qualquer evidência de tecnologia que coloquei nesta ilha.

Menos de uma hora depois, a criatura estava atacando os robôs que deixei monitorando a rodovia. Tentei atacá-la mais uma vez e falhei. Nada do que faço, nem armas, vão parar a besta. Me retirei para a base.

Meus robôs do lado de fora da base foram todos destruídos. A besta ainda conseguiu encontrar e desligar cada um dos sistemas de realidade virtual: Agora possui todas as relíquias em suas mãos. Está planejando algo.

Tudo que eu sei, é que ela quer que eu vá embora.

Dia 21

Não tenho dormido. A criatura atravessou os portões da base no começo da manhã. Todos os robôs e máquinas que estavam em seu caminho foram brutalmente destruídos. Eu me desesperei e abri uma armadilha que leva às ruínas onde construí esta base. Consegui colocar o demônio dentro e a selei, enquanto me escondia por trás de um campo de força.

Pensei que estava seguro à esta altura, já que a criatura não dá sinais de que voltará. Para esfriar a cabeça, voltei ao laboratório e tentei trabalhar em uma prensa hidráulica em grande escala que me ajudará a construir melhor os robôs. Foi quando a criatura surgiu do chão e atacou a máquina. Aparentemente, não há como matá-la.

O ser destruiu a máquina antes mesmo que eu pudesse piscar. Fugi do laboratório e corri pelo corredor para tentar alcançar a nave que me trouxe à ilha. Eu podia ver a besta me seguindo. Consegui pular na nave e fugi bem à tempo. Pensei que estava em segurança, enquanto avançava pelo penhasco de lançamento, mas então senti algo como uma forte batida na parte traseira da minha nave. O motor explodiu em chamas. Virei a cabeça para olhar a parte de trás da nave e ali estava a besta, sorrindo para mim com uma satisfação grotesca que selaria meu fim.

Quando aterrissei nas rochas abaixo, em um mar de chamas, assegurei de que sobreviveria. Eu levaria aquele mundo à uma utopia, mesmo que aquilo me matasse.
Foi quando, pela primeira vez na minha vida, eu senti desprezo por outra criatura viva. Essa besta, sem nenhum motivo, destruiu todo o meu trabalho e arriscou a vida de criaturas inocentes.
Aquilo ganhou mais do que minha raiva. E tão certo quanto meu nome é Dr. Ivo Robotnik; Como eu odeio aquele ouriço azul.
Medob
Vão pela sombra, Equipe Eutanásia.
  

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