Não me recordo mais quando surgiu o caroço em minha pele. Brotou de um dia para o outro e quando percebi vertia pus como uma espécie de erupção vulcânica. Não sinto dor alguma apesar do aspecto repugnante da ferida. O cheiro, no entanto, é insuportável. Um ranço agro não para de exalar de meu corpo. Vomito quase dez vezes por dia e não há nada que possa fazer para amenizar o fedor terrível que empesteia rapidamente o ambiente. Confesso que se pudesse escolher teria predileção pela dor em detrimento desse cheiro repulsivo.
Desfiz-me de todos os meus amigos. Se não o fizesse certamente seria rejeitado de uma forma mais dolorosa futuramente. As pessoas ainda não se habituaram a conviver com aquilo que é podre, sujo, pestilento e feio. Ainda não aprenderam a aceitar a própria condição de inferioridade vermiforme a qual buscam negar com veemência todos os dias. Negam a própria podridão como negam a vida verdadeira, a vida que levamos todos os dias no esgoto, no lixo, na sarjeta...
Foi esse o motivo primeiro de minha indignação. Foi por isso que fiz o que fiz e não me arrependo nem mesmo por um átimo de segundo ou qualquer medida de tempo pequena o suficiente. Foi por isso que os matei a todos! E não sinto sequer uma gota de remorso corroer minha alma. Não. Não me sinto culpado de um crime, como devem ter se perguntado, senhores. Vocês que tanto gostam da beleza, que tanto prezam a cultura do corpo e da mente, que tanto amam a sabedoria e a falsa moral que contamina o mundo, que tanto se intitulam sabedores das praticas de boa convivência, que tanto amam os mais delicados perfumes, que tanto se apegam a beleza da vida e, portanto, deixam de vivê-la trancando-se na bolha que os cega a todos. Trancando-se na ilusão estética decadente que permeia a sociedade mais hipócrita que já existiu na historia podre do homem!
Sim! Matei-os!
Convidei-os a me visitar e não hesitei em fazer o que seu código penal podre e hipócrita condena arbitrariamente! Matei-os com a faca de carne que usava nos churrascos dominicais e degoli-os um por um como malditas galinhas! Como os animais que são, mas negam ser! Como o gado que realmente são e não como os touros reprodutores que julgam ser!
E agora abandono esta carta de despedida e me despeço dos senhores para que possa atear fogo em meu corpo e nos cadáveres que jazem em minha sala de estar. Só assim a ferida purulenta encontrará seu fim. Só assim o caroço deixará de existir!
E para os poucos que são capazes de entender a minha mensagem, aqueles que também sentem o caroço repugnante brotar em suas costas, não neguem seus instintos primais de bestas-feras e libertem-se do mundo doente em que vivemos!
São Paulo, 03 de fevereiro de 2015,
Alexandre Simões.
por JORGE GUERRA
Vão pela sombra, Equipe Eutanásia.
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