Há acontecimentos e fenômenos que são observados no mundo que simplesmente não cabe à limitação humana compreender. Frequentemente nos deparamos com o imponderável e compreendemos, com extrema angustia, a fragilidade de que nos constituímos, a imensa ilusão do controle que pensamos ter sobre nossos próprios destinos.
A tragédia, naquele dia quente de primavera, lançou suas garras peçonhentas sobre a fabrica de aço Lima Fernandez. A estrutura da fabrica projetada em 1939 tinha quatro andares. Na época havia sido uma das muitas promessas de progresso do governo Vargas para impulsionar a economia através da industrialização. Havia obtido um sucesso relativo na metalurgia e fornecido emprego para centenas de chefes de família. Sua trajetória bem sucedida teria continuado não fosse o terrível acidente em 1969. À época não havia tantos cuidados com a segurança do trabalho e muitos empregados sequer cogitavam que haveria estudos sobre ergonomia e segurança.
O potencial acidente que sequer fora previsto assumira a forma de um simples fio desencapado. Uma simples tensão de 110 volts fora o suficiente para causar um curto e lançar faíscas sobre o tecido de uma toalha de mesa. Em dez minutos a mesa estava envolta em chamas. Em vinte minutos a sala ardia a 400 graus centigrados. Um operário sem treinamento percebeu o fogo na sala e cometeu o ultimo erro de sua vida. Abriu a porta na expectativa de controlar o fogo. Mas as moléculas agitadas pelo calor esperavam justamente uma torrente de oxigênio para a ignição. O que se seguiu foi uma explosão de chamas que despedaçou a porta e o corpo frágil do operário. Este foi o estopim de um dos maiores incêndios da década.
As chamas tomaram conta rapidamente do segundo andar do prédio isolando todos os que estavam nos andares superiores. É verdade que às vezes a tragédia chega com uma indiferença tão gélida que nos causa profundos arrepios nos pelos do braço e choques de pavor na espinha dorsal, privando-nos da crença humana fundamental da esperança e fazendo-nos duvidar severamente do providencialismo. A anedota mórbida ficou por conta da comemoração dos trinta anos de funcionamento da fabrica. Os diretores haviam organizado uma excursão com os possíveis futuros operários da fabrica. Trezentas e cinquenta crianças da escola fundamental da cidade haviam comparecido para visitar as instalações. Jamais imaginariam que a alegre visita terminaria de forma tão funesta. Quando o incêndio alcançou proporções incontroláveis as crianças estavam no quarto andar visitando o mini museu. A fumaça tóxica liquidou cada uma delas junto com outros quatrocentos funcionários.
Lá fora o corpo de bombeiros da cidade iniciava o combate ao maior incêndio que já haviam presenciado. A fumaça negra que evolava aos céus parecia formar um rosto diabólico. Pareidolia, pensaram os bombeiros imediatamente.
E desde então a cidadezinha ficou marcada pela tragédia. Nos destroços da fabrica, juram alguns moradores, ainda é possível ouvir o sussurro das crianças implorando por ajuda.
por JORGE GUERRA
Vão pela sombra, Equipe Eutanásia.
Ôlá.
ResponderExcluirEstou aqui comentando de novo kehehe.
Interessante como a forma com a qual escreve faz uma tragédia horrível ganhar um toque elegante e poético. Claro que a dor do acontecimento também está presente, já que todas as palavras entraram em mim e provocaram sentimentos.
Não me lembro se há mais de uma pessoa cuidando do EM.... Ao criador deste post, meus parabens ^^
Adoro ler esse blog kihihi *-*
Muito bom!!!
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